«Êxitos» de uns<br> desgraça de muitos

Jorge Cordeiro

A muito me­di­a­ti­zada vinda da troika para ava­liar da di­li­gência e ca­pa­ci­dade do Go­verno em des­graçar a vida do País e dos por­tu­gueses pa­rece vir con­firmar, por in­teiro, aquele dito po­pular que dá por ad­qui­rido «ser o con­ten­ta­mento de uns, a des­graça de muitos ou­tros». Pelo que não se es­tra­nhará que nestes dias não venha a es­cas­sear na aná­lise, no co­men­tário ou no dis­curso ofi­cial, as elo­gi­osas re­fe­rên­cias à so­li­ci­tude do Go­verno pe­rante as de­ter­mi­na­ções es­tran­geiras ou a servil sim­patia com que aco­lheu as in­so­lentes con­fi­dên­cias e ar­ro­gantes afir­ma­ções de altos go­ver­nantes ale­mães, como se de coisa de que nos de­vês­semos or­gu­lhar se tra­tasse; aquele enu­merar de cada um dos «êxitos» al­can­çados pelo rolo des­truidor de di­reitos e de as­salto aos ren­di­mentos de quem tra­balha, como se cada um desses apre­go­ados «êxitos» não cons­ti­tuísse um factor de des­graça na vida de mi­lhões de por­tu­gueses; ou ainda aquela tão es­ta­fada, quanto cega, in­sis­tência sobre o ale­gado e ra­dioso ca­minho que nos es­taria a di­fe­ren­ciar do rumo de países ter­ceiros, ilu­dindo que a passos largos nos en­ca­mi­nhamos para o mesmo abismo do in­cum­pri­mento e in­sol­vência na­ci­o­nais para o qual esses países foram ar­ras­tados.

Entre o «custe o que custar» de Passos Co­elho e Paulo Portas, ou a su­ge­rida apli­cação «in­te­li­gente» deste pro­grama de agressão ao país e ao povo que An­tónio José Se­guro foi so­li­citar à troika, mora a mesma e in­digna pos­tura de des­prezo pelos in­te­resses do país, pelas con­di­ções de vida dos por­tu­gueses e pela afir­mação so­be­rana de Por­tugal. Desde logo, e so­bre­tudo, porque para lá da tão apa­rente quanto real pos­tura de sub­missão a que se prestam, o que querem es­conder – PSD, CDS e PS – é que têm na troika que man­daram vir um pre­texto para me­lhor jus­ti­fi­carem a agenda e de­sígnio pró­prios que há mais de trinta e cinco anos pros­se­guem de im­porem um pro­grama de ex­plo­ração ao ser­viço do grande ca­pital que servem e do qual be­ne­fi­ciam.



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